QUE SUSTENTABILIDADE É ESSA

Texto Individual: Rio de Janeiro, cidade espetáculo – O projeto Orla Rio: que sustentabilidade é essa? Apresentação:




O texto escolhido para a postagem individual tem o título: Rio de Janeiro, cidade espetáculo – O projeto Orla Rio: que sustentabilidade é essa? Ele foi escrito por Caterine Reginensi, faz parte de uma Coletânea organizada pela professoras: Maria de Fátima Cabral Marques, Lenise Lima e Rosemere Santos e foi apresentado no Colóquio Internacional “Pobreza, Políticas Urbanas e Trabalho Social” realizado na Escola de Serviço Social da UFRJ, em setembro de 2007.



A autora traz o assunto do embelezamento da Orla de Copacabana através do Projeto ORLA RIO na construção de novos quiosques, modernizados em substituição ao comércio existente de ambulantes e quiosques antigos, que manchavam a paisagem da Cidade. Ela mostras as estratégias utilizadas para o sucesso do projeto, e ainda, como essas mudanças a fetaram os trabalhadores e os consumidores. O texto traz elementos que articulam com os assuntos discutidos em sala de aula: A tentativa de formalizar o informal e legalizar o ilegal e os limites que acabam não se definindo entre eles, como também o do embelezamento do Rio e a transformação da Cidade em espetáculo, provocando a perda da identidade local na tentativa de copiar um modelo de estruturação urbana estrangeira.



Aluna: Giselda Guedes Bastos







Rio de Janeiro, cidade espetáculo – O projeto Orla Rio: que sustentabilidade é essa?



Caterine Reginensi







O Plano Estratégico no Rio de Janeiro tem como um dos seus objetivos transformar a cidade em uma “Barcelona sob os trópicos”, tornando seus espaços urbanos em espaços globais. Sob a perspectiva do desenvolvimento sustentável, o que acontece nessa transformação é o esquecimento do fator humano. Além disso, a noção de desenvolvimento urbano sustentável apresenta contradições em três escalas: temporal (curto e longo prazo), espacial (entre local e global) e a dimensão sistêmica (complexidade de problemas e jogos de atores que se confrontam em permanência).



A incorporação do “modelo Barcelona” na cidade do Rio necessitou de reajustes. Em Barcelona, o projeto urbanístico de transformação provocou a periferização, até então não conhecida pela cidade. No Rio de Janeiro, esse fenômeno já era conhecido, mas agravar o problema não seria positivo para a imagem da cidade.



Os Jogos Pan-Americanos realizados no Rio de Janeiro tornou-se pretexto para várias transformações no cenário da cidade, entre elas, a modernização da Orla marítima. Esse projeto contou com o apoio de marcas internacionais como a Coca-Cola e a Nestlé e visava investir na erradicação de uma forma de pobreza urbana (moradores de rua, vendedores ambulantes), capaz de macular a imagem do cartão postal do turismo internacional.



O projeto Orla Rio, resultado de uma parceria entre a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e a empresa Orla Rio (presidente: João Barreto, ex-vendedor ambulante) que garantiu sua participação como concessionária por 20 anos, pretendia reconstruir 309 quiosques. Esses 309 quiosques eram ocupados por quiosqueiros que faziam acordo diretamente com a Prefeitura, pagavam aluguel pelo espaço e forneciam todo equipamento.



Com o projeto, alguns quiosqueiros se organizaram numa cooperativa chamada Coop-Quiosques que disputava com a nova cooperativa Orla Legal e depois acabou se aliando a cooperativa Orla Rio por recebimento de propina. Com essa união, quiosqueiros saíram da Coop-Quiosques e passaram a desacreditar no presidente da Orla Rio, João Barreto.



A reforma dos quiosques e a erradicação das formas de pobreza urbana nas praias não foi pacífica, a polícia interviu de forma violenta por muitas vezes. Após a abertura dos primeiros quiosques reformados, a venda de coco foi proibida e logo depois retomada devido a preferência do consumidor.



Diversos problemas com os novos quiosques foram detectados pelos usuários e arquitetos: o principal material usado, o impacto ambiental não estudado, o problema com a manutenção dos banheiros subterrâneos e a questão da umidade nos mesmos, o acesso para os deficientes e a questão da poluição, a elevação dos preços das bebidas e comidas e a perda da identidade brasileira devido à cópia de modelos estrangeiros.



Os novos quiosques custavam cada, R$ 1,5 milhão de reais, R$ 126.000,00 para equipagem (feita pela Orla Rio), mais a transferência de 10% dos lucros para a Orla Rio. Além disso, o projeto inicial pretendia empregar 24 trabalhadores com carteira assinada por quiosque. Num ambiente onde a maioria dos empregados recebem por comissão, o custo elevado não pôde ser arcado por muitos quiosqueiros que são microempresários, aposentados ou participantes de empresas familiares. Esse modelo exclui as pessoas, tanto vendedores e proprietários quanto consumidores e geram mais empregos informais. Com tantas críticas ao projeto dos quiosques, 15 quiosqueiros decidiram se reorganizar na cooperativa Orla Legal e criaram um novo padrão, usando o coco, antes expulso da praia, como inspiração.



A remodelação da orla com os novos quiosques é um exemplo do que acontece com os diversos espaços que são transformados em espaços globais. Ocorre sempre a elevação do custo de consumo e a seleção dos consumidores pelo poder aquisitivo. A classe média é a grande favorecida pelos novos espaços, enquanto as classes mais baixas não têm acesso a eles. Na parte comercial, donos de lojas antes ali instalados não conseguem se manter, devido à especulação imobiliária e aumento de aluguéis e custos de manutenção.



No caso dos quiosques, o acesso ao consumo foi reduzido e restringido, a venda e a manutenção do ponto comercial pelos quiosqueiros foi encarecida e dificultada. Para a maioria dos quiosqueiros a solução era comercializar em outro local, enquanto para os trabalhadores a solução era encontrar outro emprego caso os empregadores não pudessem continuar a investir ali. Na praia onde vendedores ambulantes procuram produtos que não possuem nos quiosques, barracas alugam cadeiras e guarda-sol e oferecem bebidas aos freqüentadores e os quiosqueiros atendem a população nos calçadões, enfim, onde o comércio formal e informal trabalham em conjunto, não só os quiosqueiros saíram prejudicados pelo projeto inicial da Orla Rio, mas toda a estrutura comercial presente nas praias do Rio de Janeiro e, por fim, o consumidor.



As dicussões deste texto se renovam e se tornam atuais. O Rio será Sede dos Jogos OLímpicos e da Copa do Mundo, a população vibrou e celebrou com a eleição da Cidade. O investimento na infra-estrutura e embelezamento na transformação da Cidade em espetáculo acontecerão e refletirão na organização espacial do trabalho e em sua forma de reprodução.



Referência bibliográfica:



GOMES, Maria de Fátima Cabral Marques; FERNANDES, Lenise Lima; MAIA, Rosemere Santos. Interlocuções urbanas: cenário, enredo e atores. Rio de Janeiro: Editora Arco Íris, p. 141 – 161, 2008.



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